terça-feira, 17 de janeiro de 2017

"Alma no olho" de Zózimo Bulbul



        Em  “Alma no olho” (1976), Zózimo Bulbul dirige a si próprio em uma linguagem experimental com o evidente propósito de tratar da identidade negra. Nas primeiras cenas, há um enquadramento em seu sorriso, rosto, orelhas, ombros, mãos, tórax, perna, pés, entre outras partes, o que destaca o corpo negro e suas particularidades em contraponto ao “fundo infinito branco”. Não há uma fala sequer e o gestual apresentado retrata a trajetória do negro, desde a sua vida na África até a reivindicação da sua liberdade em território brasileiro.
       Em um primeiro momento, esse corpo embalado pela música de John Coltrane expõe beleza e contentamento. Mostra-se extasiado, livre, sendo que seus adornos e indumentária rememoram a cultura africana. Entretanto, tal estado dará lugar repentinamente à amargura, à angústia, ao desespero, quando ele é trancafiado em grilhões. A escravidão dos africanos (as) de modo atroz rouba-lhes a realidade, a verdade, a liberdade, a moral, que desfrutavam na terra natal, para a imposição da sujeição e obediência. A escravidão ocorre, evidentemente, por necessidades econômicas encobertas pelos supostos deveres civilizatórios.
       O que Zózimo pretende nesse curta é justamente uma exposição cuidadosa do corpo negro com a finalidade de uma aceitação do mesmo e da sua história. A performance determina que mesmo após o fim da escravidão, o negro permanece, de algum modo, escravizado. Vê-se notoriamente traços de vivacidade e contentamento, quando ele ainda está em sua terra natal e o desamparo, a melancolia nos períodos em se que encontra escravizado. Somente no último instante as correntes são quebradas, o que indica que a consciência acerca da sua identidade provoca uma ação de resistência, que refreia a opressão. Agora, o semblante é de revolta. 
















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