sábado, 28 de outubro de 2017

Infância roubada em "Falcão: meninos do tráfico"





Iniciativa louvável do rapper MV Bill, de Celso Athayde e da organização Central Única de Favela, o documentário “Falcão: meninos do tráfico”, lançado em 2006, apresenta a rotina de crianças e jovens brasileiros no que se refere às suas funções no empacotamento da maconha e da cocaína, na venda das mesmas e na vigília noturna nas diversas comunidades do Brasil. Segundo o próprio rapper, as semelhanças entre as crianças e jovens envolvidos com o tráfico estaria no fato de serem negros, de pertencerem a famílias desestruturadas e de morarem em favelas.
De acordo com pesquisas publicadas no “Mapa da Violência”[1], em 2003, morreram 71,7% mais negros do que brancos, no Brasil, por arma de fogo. Em 2014, esse percentual alcança a marca de 158,9%. Há que se estudar caso a caso, Estado por Estado, pois essa porcentagem pode significar algo mais do que a herança da escravatura e práticas racistas. De todo modo, denotam o aumento do índice de violência e da morte entre negros no país. Dentre esses homicídios, a mortalidade é maior entre jovens do sexo masculino, visto que, desde os 13 anos, as mortes crescem de forma contínua até alcançarem o pico nos 20 anos de idade.
Mesmo com “Falcão” tendo escancarado as condições desumanas, nas quais essas crianças e jovens vivem, elas continuam invisíveis para o Estado. Ainda assim, considera-se a possibilidade de uma comoção da sociedade brasileira e do mundo, mediante a fruição da obra. Apesar disso, como pode comprovar os dados acima, não há transformações relevantes no cuidado e na educação dessas crianças.

Texto na íntegra: LINO, Alice de Carvalho. Infância roubada em Falcão: meninos do tráfico. Filme Cultura, v. 1, p. 14-17, 2017. Disponível em: http://hmg.revista.cultura.gov.br/colecao/filme-cultura/?item=filme-cultura-n-62




[1] Mapa da Violência 2016. Homicídios por arma de fogo no país. JulioJacoboWaiselfisz.Flacso Brasil. 
Disponível em: <http://flacso.org.br/files/2016/08/Mapa2016_armas_web.pdf>. Acesso em: 02/02/2017.

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